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A CONSULTA E O DIAGNÓSTICO: MAL DE FELIS CATUS

Foto: Magno Paz

Por | Adailson Silva                                            

 Olá, amigo. O que houve? Senti certa angústia na sua voz.

Nem sei por onde começar, são tantas dores!

Ora, certamente há um início. Seja sincero, achei que você precisava de ajuda e vim correndo, então fale de uma vez!

Sabe amigo, estou debilitado e pensei que você poderia achar uma solução para os meus problemas. Você que é humano e tão estudado, cheio das artimanhas da ciência e das curas caseiras.

Então me diga, o que sente?

Minha garganta está arranhada, me incomoda, acaba comigo. Não sei se é crise, mas é como se tivessem unhas arranhando goela abaixo. Minha fala é irreconhecível, já se confunde com miados e a cada momento sinto que perco a essência da minha voz.

 

Meu organismo, que teima em existir, sofre com as doenças naturais, com o convívio nada pacífico, e não precisa se perder numa matança desequilibrada.

Se eu ao menos tivesse braços e pernas pra delicadamente enxotá-los daqui. Se eles tivessem medo da minha voz eu gritaria para espantá-los, com carinho é claro

Eles são carismáticos, confesso e são de vários jeitos: pretos, brancos, amarelos, rajados, listrados, doentes, saudáveis, novos, velhacos, miados, miados, miados. E assim sigo, quando acordo, miados, quando o dia se vai, miados também, de madrugada então… 

O pior que eles se espalham e vão miando, miando, acabando comigo e tudo que eu tenho. E eu sei que são carismáticos, mas são muito prejudiciais.

Amigo, já sei do que se trata, o nome da doença é “Feliscatus”.

Ah, conte-me uma novidade! Já recebi esse diagnóstico. Eu tô pedindo socorro, um remédio.

 

As pessoas que poderiam me ajudar não ligam muito e ainda alimentam esse problema. Os gatos estão confortáveis e em toda parte.

 

Meu corpo é frágil, galhos magros! Apesar do tempo eu sou um bebê exposto a uma forte gripe.

 

Pode parecer exagero, mas eles são a segunda maior causa de redução da biodiversidade na Terra.

 

Eles vão acabar comigo!

Calma, amigo Cocó. Francamente, já não sobreviveu a tantos outros problemas?

Calma? Deixe-me dizer três coisas que me fazem sofrer menos do que esses seres exóticos e “fofinhos”: poluição, tráfico de animais e caça.

 

É tão triste eu me deparar com minhas raposas adoecidas, com meus pássaros mortos. E os répteis pequenos? Coitados!

 

Não há espaço pra todos, sou grande, mas não há como comportar em harmonia todo mundo de quatro patas, com garras e esses miados insuportáveis. 

Entendo.
 
Querido, infelizmente não há substituição compensatória, toda semana você morrerá um pouco (muito) e pelo que estudei posso dizer que é um epidemia!
 
Sabe aquela doença que se espalha? Eles são assim: um vira cinco e depois de alguns meses esses cinco se tornam vinte e cinco e cada um deles leva de dentro de você a saúde que tinha antes.
 
Há casos que você vai perder vida seis vezes por semana. E desculpe a sinceridade, mas você ficará um tanto mais feio.

Amigo, confio no seu diagnóstico, sei que é doutor e também não ligo para beleza, não sou vaidoso.

 

Mas como eu disse, minha garganta está arranhada e não sei se aguento muito tempo a mais.

 

Não é drama gratuito, posso ficar vazio de vida. É apocalíptico, eu sei, mas qualquer dia posso não ter o que dizer e nem ter voz para cantar - imagina os vizinhos sem minha linda voz. O que peço é ajuda.

 

POR FAVOR ME AJUDE, SE NÃO A CULPA SERÁ SUA! 

Calma! Você está muito exaltado.
 
Com esse problema alguns sintomas aparecem: FELV, FIV, Toxoplasmose e até parasitas. Mas pelo visto e pelo seu tom de fala acho que é melhor começar tratando essa “raiva”.
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