Os vizinhos que você não conhece
Foto: Vitória Yngrid
Por | Vitória Yngrid
Para os visitantes do Parque do Cocó, é quase inacreditável a quantidade de espécies que vivem na floresta. Devido à proximidade da cidade e da mata, pela pouca visibilidade de espécies que compõem o Cocó, é um verdadeiro espanto e tamanha alegria saber que a biodiversidade local continua viva e forte.
A floresta que corresponde a boa parte dos últimos 3% da vegetação original remanescente da cidade, abriga diversos animais e plantas, dentre elas as que compõem a fauna estão: Guaxinim (Mão-pelada), Cassaco (Gambá), Cobras verdes, Cobras cipó, Jiboia, Coral falsa e verdadeira, Cobra d’água, Cobra de cadarço, Cobra-corre-campo, Raposa (Cachorro-do-mato), Soins, Morcegos, Jaguatirica, Mariscos, Jacarés, Tatupeba, Gambás, Galinha-d'água, Coruja-buraqueira, Garças, Tamatião, Rasga-mortalha, Iguana, Tejo etc.
Gif: Magno Paz
O popular "calango" (Tropidurus oreadicus) é facilmente encontrado pelas trilhas do Cocó.
Tem a vegetação do Cocó o Ipê, a Peroba, Carnaúba, Ameixa da praia, Inhame, Pau-pombo, Cajueiro, Mangueiras e com maior predominância é possível avistar em todo o parque Azeitona-preta e Castanheira, ambas exóticas.
Gif: Magno Paz
Já a flora é composta pelos Mangues Vermelho, Preto e de Botão, nos ecossistemas de dunas, mangues e mata de tabuleiro. Tem a vegetação do Cocó o Ipê, a Peroba, Carnaúba, Ameixa da praia, Inhame, Pau-pombo, Cajueiro, Mangueiras e com maior predominância é possível avistar em todo o parque Azeitona-preta e Castanheira, ambas exóticas.
O parque não possuía nenhuma estimativa referente as espécies que constituíam a vida selvagem. Devido à necessidade, em conhecer quais e quantas eram as espécies, foi criado o Projeto Fauna do Cocó, que desenvolve estudos quantitativos e qualitativos no que corresponde a fauna local. Foi desenvolvido pela gestão do parque um plano de convivência com os gatos domésticos.
Segundo Paulo Lira, gestor do Parque do Cocó, a primeira missão que recebeu no início de sua gestão foi, enfrenta a questão dos gatos. “Não iriamos debelar os gatos, isso porque não é um problema que se restringe apenas ao parque do Cocó, isso é comum, é uma endemia nas praças e parques de todo o pais”, afirma.
A gestão do parque uniu-se à Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA), a Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Ceará (SEMA), ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), as gateiras (grupo de mulheres que cuidam dos gatos em espaços públicos), aos protetores independentes que representa as ONGS de proteção animal, para elaborar um plano de convivência entre gatos, animais silvestres e usuários do local.
A definição dos locais de alimentação dos felinos faz parte do Plano de Convivência elaborado entre a SEUMA, a SEMA, as Gateiras e o IBAMA. Foto: Magno Paz
Quando Paulo Lira chegou ao parque, fez um diagnóstico de quantos gatos existiam na época. Segundo Lira, “a estimativa era em torno de 200 gatos, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos, pois não conseguíamos visualizar todos eles”. Em seguida foi colocado em pratica o plano de convivência, foi dividido em cinco pilares.
1 - Regulamentar e disciplinar a alimentação dos gatos apenas com ração. Para evitar as práticas que eram realizadas, como a disposição de restos de comida pelo ambiente.
2 - Definir os locais de alimentação, criação de ilhas de abrigos e alimento. Em acordo realizado com as gateiras foram definidas 10 ilhas, onde foram dispostos recipientes com água e ração, na parte externa da mata.
5 - Coibir o abandono desses bichos. Por meio de blitz educativas, abordagens de pessoas que alimentam os gatos, e futuramente contará com o monitoramento de câmeras, que tem previsão para serem instaladas em 2018. Segundo gestor do parque, até novembro do mesmo ano será entregue o relatório com os estudos desenvolvidos sobre a fauna.
3 - Castração em massa, para evitar a reprodução dos felinos. Em parceria com os estudantes de medicina veterinária da UECE, foi realizada a castração de 118 gatos, como também, vacinação e vermifugação.
4 - Promovia a realização de eventos, que estimulassem a adoção.
E pela primeira vez foi registrada a adoção de 76 gatos em agosto de 2013.
Lucas Silva, que faz parte da gestão ambiental do parque afirma, “depois da perda do espaço natural com o desmatamento e a construção urbana, o segundo maior fator de perca da biodiversidade no planeta, é a introdução de animais exóticos na mata”. Ambas as situações são notórias aos visitantes que realizam trilhas no Cocó, principalmente no que se refere aos animais domésticos cães e gatos, que fazem morada no local.
Segundo os guardas florestais do parque, a situação se intensifica devido a insistência da população em abandonar os bichos. Está ação é um crime previsto em lei e para os praticantes, as consequências variam desde punição como prisão, multa e a perda da guarda do animal.
“cada gato mata 5,5 animais silvestres por mês, se você tem 100 gatos, são 550 mortes de animais silvestres por mês. Isto é muito sério é um impacto bem grande”
Gabriel Aguiar
tem aproximadamente 4 filhotes por ninhada
em 8 meses, os filhotes estarão aptos a procriar e serão 12 gatos abandonados
em 16 meses, os novos filhotes, os pais e os avós continuam tendo filhos, logo serão 36 gatos abandonados
O comandante Neo diz: “O certo seria ter uma ação para deslocar estes gatos para outro local”. O indicado seria realizar um remanejamento desses felinos para abrigo, onde pudessem receber tratamentos adequados e posteriormente serem adotados por famílias.
A presença desses bichos na mata proporciona um impacto gigantesco. Segundo o estudante de Ciências Biológicas da UFC Gabriel Aguiar, “cada gato mata 5,5 animais silvestres por mês, se você tem 100 gatos, são 550 mortes de animais silvestres por mês. Isto é muito sério é um impacto bem grande”.
Quando os gatos e cachorros ocupam o nicho ecológico dos animais silvestres, eles passam a fazer uso da natureza, com isso os bichos que de fato compõem o habitat passam a perder espaço e recursos.
Doenças transmitidas
FIV
FELV
Verminoses
Toxoplasmose
O contato de ambas as espécies é prejudicial, pois as condições, as quais estão acostumados a viver são diferentes, isto faz surgir doenças tais como: a FIV (Aids felina, FelineImmunodeficiency Viris, transmitida pelo contato da saliva e sangue de outros animais), a FELV( Leucemia Felina, FelimeLeukimiaVirus, doença que afeta o sistema imunológico dosanimais, deixando-os fracos e debilitados), Verminoses (provocada por diversos vermes que podem afetar vários órgãos causando serias complicações ao animal), Toxoplasmose (causada por parasitas, que usam os animais domésticos como hospedeiros) etc. Isto porque, a resistência do sistema imunológico dos animais silvestres não tem capacidade suficiente de defesa, assim aumenta o índice de morte.
O estudante Gabriel Aguiar, enfatiza também a necessidade de métodos que busquem minimizar esta situação como: “campanhas de castração e incentivo para aumentar o número de adoções. Conscientizar a população a não colocar comida em locais públicos, fiscalizar as áreas de abandono de forma a coibir este ato e remanejar os animais domésticos parafora das unidades de conservação”. É preciso também a conscientização da população a não alimentar os animais silvestres. Pois isto, torna-se um hábito, além de desmotivar a busca pelo próprio alimento, prejudica a saúde do animal, que ao ingerir comidas inadequadas provocam o desbalanceamento dafisiologia natural do animal.
O Parque do Cocó aos poucos, busca maneiras de ajustar a situação, que envolve todos que ocupam o espaço. Busca proporcionar o convívio saudável entre as espécies, para que nenhuma parte seja desfavorecida, e que todos possam fazer uso de maneira consciente da natureza para que assim, o Cocó saia ganhando e todos nós também.